Contando histórias para crianças. Quando se tem uma criancinha de quatro anos perguntadeira e curiosa em casa, todos nós mães e pais, nos tornamos contadores de histórias. Eu sou cientista, sou poeta e sou mãe. De certa forma todas essas facetas estão adormecidas dentro de todos nós. Quando experimentamos, quando filosofamos e quando cuidamos da nossa cria. Eu nunca me esqueço do dia em que senti meu corpo diferente do normal. Hoje lembrando deste dia em que descobri que uma vida crescia dentro de mim, até parece que o sol brilhava mais forte. Uma plenitude, uma alegria intensa. Claro que eu não sabia dos desafios. Claro que eu não sabia que ser mãe não é sempre fácil, mas isso já é outra história. Desde deste dia eu comecei a falar com meu bebê, contar para ela sobre a minha rotina, descrever para ela o mundo. Eu cantava no chuveiro, eu contava histórias. No caminho do trabalho eu cantava e contava o mundo para ela. Até o dia em que ela nasceu. Essa história realmente começa com as inúmeras noites tentando colocar uma menininha muito ativa para dormir, foi então que eu comecei a inventar histórias mirabolantes. Eu queria que ela entendesse o mundo muito além das velhas histórias dos contos de fadas. Eu queria que ela visse o mundo além do vilões e mocinhos, além dos estereótipos impostos pela sociedade. Eu gostaria que ela tivesse a chance de ver o mundo como eu via, a natureza e a beleza dos fenômenos naturais mesmo sem perder a fantasia. Entre cogumelos, caramujos e sapos eu comecei descrevendo para ela os bichos e seus hábitos de uma forma divertida e, ao meu ver, pouco convencional. Ela sempre prestando atenção com seus olhinhos redondos de curiosidade. As vezes nem parece que ela está ouvindo o que eu digo, mas dias depois ela comenta algo que me remete a uma conversa que tivemos ou uma descrição de um fato que vimos juntas. É reconfortante. Ela é sempre minha inspiração. “Olha mãe, o ‘bicinho’!” – Assim mesmo com ‘c’ e não ‘ch’. “Por que ele tá voando?”, “O que é o tovão?” – ‘Trovão’ Coisa mais fofa do mundo! Como não amar? Ela ama besouros, minhocas e borboletas. Tem problemas filosóficos com os mosquitos e as baratas. E tem fascinação por plantar todas as sementes que encontramos pela frente. O planeta favorito dela é júpiter e ela só tem quatro anos. Foi explicando para ela sobre os planetas (o pai dela, o Cris, tem muita responsabilidade nessa paixão pelo universo) que escrevi a história da Coruja professora de astronomia. Foi porque ela ama plantar plantinhas que eu escrevi para ela a história da do Seu Minhoca que mantem a terra bem fofinha e do Cogumelo com seu micélio que ajuda a comer as folhas velhas. E foi porque ela adora borboletas que eu escrevi para ela a história da Borboleta Marieta e sua descoberta da metamorfose. Estamos sempre caminhando juntas e trazendo ‘tesouros’ para casa. Os tesouros dela são galhos, flores e pedras, os meus são memórias e sorrisos. Uma vez ela trouxe uma comunidade inteira de fadas imaginárias para morar no guarda-roupas. Aposto que elas ainda estão por lá! Às vezes o tesouro dela é um inseto morto muito interessante. E são nessas caminhadas cheias de perguntas e comentários inocentes que ela me leva para esse mundo de curiosidade infantil e me faz querer explicar o mundo para ela. Eu acredito que há muito além dos contos de fadas para as crianças. Que elas precisam interagir e entender o mundo real, mas essa descoberta não precisa ser ‘séria’ ou ‘rígida’. Essa descoberta pode ser cheia de fantasia e imaginação. Adoro poder aproveitar o potencial das crianças para misturar realidade com fantasia. Afinal, eles são crianças. Nosso passatempo favorito é a leitura. Ela adora ouvir as histórias lidas por nós. Tentamos na medida do nosso cansaço ler todos os dias para ela. Tem livros que ela gosta mais que outros e alguns deles ela até decorou as palavras de tanto ouvir. Eu não me incomodo em ler o mesmo livro muitas vezes. No final das contas, ela conhece os personagens e entende suas motivações. Eu percebo que, para ela, eles todos existem. Eu não me preocupo em explicar que na verdade eles são apenas histórias. Deixe que existam em sua cabecinha cheia de sonhos! A exceção foi o lobo-mal, que foi apresentado na escolinha e que tivemos que desmistificar para nossa sanidade noturna. A maioria das pessoas não se dá conta de como as histórias impactam as crianças. E como é preciso pensar bastante no conteúdo que oferecemos para elas. Mas esse papo de colocar medo nas crianças, é tema para outra vez. Todas as crianças são curiosas e inventivas e para todo ‘Porque’ tem uma resposta. Mas mesmo que você não seja um contador de histórias, arrume um tempo para ouvir as perguntas e os pontos de vista dos pequenos. Essa conversa é muito prazerosa. A criança descobre o mundo através dos teus olhos, e nós redescobrimos o mundo através dos dela. Eu sempre escrevi poesias e histórias, mas são os olhos brilhantes da Sophia que me fazem querer explicar o mundo para ela. Eu quero que ela sinta vontade de descobrir cada vez mais e que sinta cada vez mais essa curiosidade. E eu tenho extremo orgulho de ser, pelo menos nesses primeiros anos de vida, um dos guias nessa aventura única para ela, que é viver.
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Sobre a autora.Meu nome é Mariana. Sou mãe, bióloga, professora, pesquisadora, dona-de-casa, esposa, de tudo um pouco, não necessariamente nesta ordem. Neste blog, pretendo compartilhar minhas experiências em conciliar a vida de mãe e a vida acadêmica. Outros posts.
May 2018
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